Uncategorized

Entenda todas as metáforas por trás do filme mãe!

Darren Aronofsky, diretor e roteirista do filme mãe!, já disse que a obra está aberta à interpretação do público de várias formas. Ele já descreveu o filme como um “ataque” e um “sonho febril”.




Jennifer Lawrence, protagonista do longa, já afirmou que o filme não é de terror, e sim uma gigante alegoria. E que o filme só foi classificado como terror porque tinha que preparar mentalmente o público para as atrocidades que são mostradas graficamente na telona. Durante o Festival de Toronto, Ed Harris brincou sobre o assunto: “Ainda não tenho certeza do que pensar sobre isso tudo”. Já Javier Bardem falou: “Basicamente, eu não sabia o que estava fazendo… Eu nem mesmo falo inglês”.

A primeira coisa que fica clara com mãe! é que o filme se esbalda em simbolismo. Nos 25 minutos finais do filme, a personagem de Jennifer Lawrence [Mãe Terra] sofre, é queimada, espancada… O que isso tudo significa? Vamos tentar destrinchar as metáforas e alegorias de mãe!?

mãe! é uma alegoria sobre Deus e a Terra. O personagem de Javier Bardem, um poeta, é Deus, e Jennifer Lawrence, a Mãe e protagonista, é a Mãe Terra, com a casa sendo o meio ambiente. A partir daí, a história é uma alegoria do Antigo e Novo Testamento, mostrando uma visão bem misantrópica da história humana.

Ed Harris representa Adão. Quando ele está vomitando no banheiro, nós vemos rapidamente um ferimento em sua costela. Na época cena, sua esposa, interpretada por Michelle Pfeiffer, aparece. Ela representa Eva, que nasceu da costela de Adão.

Clique aqui e leia a nossa crítica sobre o filme mãe!

Ed e Michelle, ou Adão e Eva, são autorizados a andar pela casa, ou mundo. Mas são avisados para não entrar no escritório do poeta. Mas eles acabam entrando no escritório e quebram o cristal que o poeta tanto amava. Paralelo com o momento em que a maçã proibida é mordida? Por causa disso, eles são exilados e rapidamente começam a fazer sexo em outro cômodo da casa, representando o pecado original e a desgraça do homem após comer o fruto proibido da árvore do conhecimento no Jardim do Éden.

Os filhos do casal, Brian Gleeson e Domhnall Gleeson, aparecem e discutem. Durante a discussão, um irmão mata o outro. Caim e Abel. E os pais e o poeta levam o filho morto para o hospital, enquanto o irmão sobrevivente foge. O poeta e os pais retornam nessa mesma noite, mais tarde. E mais e mais convidados aparecem. E isso torna-se uma reunião caótica. A personagem de Jennifer reclama várias vezes para ninguém se sentar na pia, que não está pronta. Mas os convidados desobedecem a ordem, a pia quebra, o cano estoura e a água passa a jorrar na casa. E tudo isso certamente representa a queda da humanidade após o assassinato de Abel e o dilúvio.

Depois que a água jorra pela casa e os convidados vão embora, a Mãe reclama com o poeta que ele não faz sexo com ela. Os dois fazem sexo e, no dia seguinte, ela garante, com toda a certeza, que está grávida. O poeta tem um rompante de inspiração e vai ao seu escritório para escrever. Quando ele mostra a sua obra, a Mãe tem uma visão de um mundo rejuvenescido e afirma que a obra é linda, emocionada. Mas, mais uma vez, várias pessoas começam a chegar na casa. A Mãe preparou uma deliciosa refeição para ela e o poeta. Mas ela está em estágio avançado da gravidez e fica sobrecarregada com aquela multidão de pessoas.

A partir daí, o filme larga um pouco o texto bíblico e passa a focar numa passagem histórica. O elemento do Novo Testamento é o filho da personagem de Jennifer Lawrence, que é a figura de Cristo. Mas antes do bebê nascer, a Mãe passa por uma experiência infernal, numa das mais agoniantes cenas do filme. Ela anda de cômodo em cômodo de sua casa e fica frente a frente com guerra, tráfico de seres humanos e várias outras cenas de puro pesadelo. Até que o poeta reaparece para levá-la para o seu escritório, onde ela finalmente dá à luz o filho dos dois. O filme parece querer dizer que Deus abandonou a Terra em passagens antes do nascimento do Messias. Ou assistiu a tudo sem nenhuma interferência nos momentos mais tensos e de barbárie.

Mas a humanidade continua fazendo m-rda. E arranca o bebê da Mãe. Mata o bebê e come sua carne. Literalmente comem o corpo e o sangue de Cristo. Tudo isso enquanto adoram o poeta em um altar. Eles atacam a Mãe, arrancam suas roupas e a espancam, até que ela consegue escapar e desce até o porão. Ela quebra um tambor com óleo e incendeia o lugar.

Clique aqui e leia a nossa crítica sobre o filme mãe!

Enfim… mesmo quando foram apresentados a um salvador, totalmente inocente, a humanidade continuou apenas matando, comeu a carne do Messias (a comunhão) e continuou atacando a Mãe Terra, com Deus novamente ausente. Até que a Mãe Terra finalmente usa óleo (combustíveis fósseis) para destruir a humanidade, com Deus dessa vez impotente para detê-la.




O poeta pega o corpo carbonizado da Mãe e tira o coração de dentro de seu peito, ainda batendo. E a Mãe se transforma em cinzas, e o seu coração queimado torna-se um novo cristal para o poeta. Ele coloco o novo cristal no suporte e somos levados ao início do filme, com uma mulher acordando em sua cama. A única diferente é que é outra mulher, não mais Jennifer Lawrence. A Terra e a humanidade deixam de existir. E, na melhor das hipóteses, Deus fará tudo de novo porque precisa criar e deseja sentir o amor de de suas criações.

Ao longo do filme, a Mãe, sempre que sobrecarregada, coloca as mãos nas paredes da casa, e tem uma visão de um coração diminuindo, escurecendo e parando de bater. A casa está sangrando, sofrendo e desmoronando. A Mãe Natureza está vendo que o meio ambiente está morrendo, principalmente quanto mais pessoas entram na casa e causam apenas o caos.

Algumas curiosidades: Darren Aronofsky é ateu, extremamente ligado a assuntos ambientais e o tema de seu filme anterior, Noé, foi a queda da humanidade diante de uma catástrofe ambiental e um Deus ausente.

Mas essa leitura, claro, é apenas uma das possíveis. A mais comum, mas apenas uma das possibilidades. Também é possível ver o filme como uma história sobre criação, mostrando o poeta como um artista e a espada de dois gumes de seu trabalho, sobre a necessidade de criar e a destruição que seu trabalho pode causar. E todo o narcisismo que um artista pode ter.

Em todos os casos, uma pergunta ainda fica em aberto: o que é e o que significa o líquido amarelo que a Mãe toma constantemente durante o filme? Qual a sua teoria?