Darren Aronofsky participa de coletiva de imprensa em São Paulo e fala sobre Mãe!: ‘Vai ferrar sua mente’
O diretor e roteirista Darren Aronofsky está em São Paulo para promover o filme Mãe!, que estreia no Brasil quinta-feira, 21 de setembro. A coletiva de imprensa com o diretor aconteceu no Cinemark do Shopping Eldorado, nesta sexta-feira (19)
Sobre seu mais novo filme, Mãe!, estrelado por Jennifer Lawrence e Javier Bardem, o cineasta afirmou que não quis falar sobre a mãe dele ou a mãe de alguém, e sim “a mãe que nos dá vida”. Ele explicou que alguém de São Paulo pode não entender completamente um problema que está acontecendo em Nova York, assim como alguém de Nova York pode não entender completamente um problema de São Paulo. “Todos entendem quando colocamos [o tema] dentro de uma casa, sem personificar”, explicou. “Eu acho que o interessante é focar na metáfora, na alegoria. Na maneira que nós tratamos o planeta Terra. Tentar fazer o filme na perspectiva dela pela primeira vez. Tentar personificar a Terra”.
Darren garantiu também que não fez o filme pensando nas eleições que deram vitória a Donald Trump nos Estados Unidos. De acordo com ele, se Mãe! tivesse sido feito pós-Trump, seria “muito, muito mais agressivo”. “Fazer um filme leva muito tempo. Eu escrevi em 2015, com Obama no poder. É coincidência – ou trágico – que o filme saiu no primeiro ano de Trump”, explicou. Ele disse também que o lado bom de Trump estar no poder é que “o câncer está mais visível do que nunca”.
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O diretor afirmou que a alegoria sobre o planeta Terra é apenas uma das camadas do filme. “Isso se conecta muito com outra camada: uma história de amor de um criador, um homem mais velho, com uma mulher mais jovem que cuida. Sobre o casamento deles começando a desmoronar. Essas duas coisas se encaixam bem e se completam”, disse ele. “A ideia de Mãe! é colocar o público dentro da cabeça de Jennifer. Fazer o público sentir durante 2 horas o que é ser aquela personagem”, explicou.
Darren explicou ainda o motivo de nenhum personagem ter nome mencionado durante o filme. De acordo com ele, todas as “dicas” estão nos créditos. “O filme pode ser assistido tanto como uma história humana entre um marido e uma esposa, e todas essas pessoas que entram na casa e quebram o casamento, e o pesadelo que isso é, como também como uma alegoria”, explicou. “Os nomes dos créditos se referem à alegoria”.
Aronofsky defendeu que o cinema é pessoal e admira cineastas que encaram a sétima arte dessa maneira. Ele explicou que a bailarina de Cisne Negro é ele, o lutador de O Lutador é ele, assim como o conquistador em Fonte da Vida e o mago da matemática de Pi – “em escala menor” – e, mesmo, assim nunca são ele. “São uma parte de você que você estica e transforma num personagem para contar uma história”, explicou. “Em Mãe!, a personagem de Jen é a que mais me identifico, mas também tem algo de mim no personagem de Javier”.
Sobre uma certa visão otimista em todos os seus filmes, já que seus personagens sempre encontram algum tipo de redenção, ainda que precisem “explodir tudo”, Darren garantiu que é otimista. Para ele, mostrar a tragédia ajuda a revelar a luz. “Olhar a escuridão te faz ver a luz”, explicou, adicionando que a mãe natureza ainda não nos explodiu, então “ainda temos chance de mudar”.
As reações a Mãe! pelo mundo estão sendo extremas; há quem ame o filme e há quem odeie. Aronofsky garantiu que isso já era algo esperado, pois o filme é “muito agressivo”. Ele imagina, entretanto, que o elenco composto por Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Michelle Pfeiffer, Ed Harris e Domnhall Gleeson faz o público ir assistir esperando um filme mais “normal”. O diretor acredita que, se o elenco fosse de atores desconhecidos, talvez o público esperaria algo mais “fora do padrão”, como os outros filmes de seu currículo.
O diretor disse ainda que todas as interpretações são cabíveis ao filme. Mas a única que ele não gosta é a de que o filme mostra violência por violência. “Violência falsa é perigosa, assim como sexualidade falsa é perigosa”, disse ele. Para o diretor, é importante mostrar a violência da maneira que ela é, sem minimizar, para servir de alerta. “E isso pode chatear as pessoas”, afirmou. Aronofsky contou ainda que os 25 minutos finais do filme foram, tecnicamente, os mais difíceis que já fez até hoje.
Aronofsky também abordou a maneira que o filme está sendo vendido pela Paramount. “Mãe! é um filme bem difícil de ser vendido, porque não é um filme de gênero. O trailer deveria dizer: ‘Esse não é um filme de terror, não é um suspense, mas vai ferrar sua mente'”.
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Sobre a escolha de Michelle Pfeiffer para o papel, Aronofsky contou que pensou imediatamente na atriz quando soube que ela estava voltando a atuar, após pausa na carreira. “A personagem dela é uma alegoria à Eva da Bíblia”, disse ele, contando que queria uma atriz que trouxesse a malícia necessária e criasse um jogo de gato e rato com a personagem de Jennifer.
Ao ser perguntado sobre o papel de Jennifer Lawrence na construção de sua personagem, que tem subtexto feminista, o diretor afirmou que a atriz respondeu ao material muito rápido. Ele afirmou que isso se deve ao fato dela ter pensado que aquilo era algo muito diferente de tudo que interpretou, assim como era um papel muito importante para o que ela acredita. “Acho que ela se conectou imediatamente com a ideia do espírito de uma casa, de uma mulher cheia de dons, que está sempre dando. Igual ao nosso planeta, que sempre nos dá todos esses recursos, toda essa beleza. E como isso se relaciona com aqueles convidados, que são rudes e desrespeitosos”, explicou.
Sobre um misterioso líquido amarelo que aparece durante o filme, Darren quis manter o segredo. “Essa é a única pergunta que eu não respondo. Qualquer outra coisa que você quiser saber, eu respondo. Mas essa resposta eu vou levar para o caixão”, disse ele. Qual a sua teoria?
