[Crítica] Making a Murderer (2015)

[Crítica] Making a Murderer
[contém (poucos) spoilers]
Chegando pouco tempo depois de The Jinx (leia nossa crítica desse impressionante documentário em minissérie), Making a Murderer parece sinalizar que a época dos documentários serializados chegou. Não apenas isso, também a respeito do tema, as duas séries têm muita coisa em comum. 

Neste documentário, o objeto analisado é Steven Avery. Morador de uma cidade pacata, Condado de Manitowoc, ele é acusado de haver violentado uma mulher enquanto esta corria pela praia. Logo, ele é aprisionado e julgado; tudo acontece muito rápido e começam a aparecer suspeitas de que talvez as autoridades não tenham sido inteiramente honestas na acusação de Steven.

Uma série de fatos desconexos fazem o espectador acreditar que Steven Avery sofreu uma armação clara, ou, senão isso, foi vítima de um sistema judicial que coleciona falhas de todos os tipos. Logo descobrimos que não apenas Steven, mas toda a família Avery, não é vista com bons olhos na sua cidade. Alguns fatos surgem para corroborar essa ideia, embora sejam poucos e, no caminhar da série, parecem perder o sentido no todo. 
Os anos passam e a família de Steven não é capaz de provar que este é inocente do crime de que o acusam. Após ficar preso por impressionantes 18 anos, surge uma prova – por ocasião de um avanço na tecnologia de reconhecimento de DNA – que prova indubitavelmente que Steven não pode ser culpado. Ele é libertado.

O inacreditável pode acontecer

Opera-se uma reviravolta interessante em que Steven passa a tentar processar o Estado pelos seus anos de reclusão injusta. As autoridades acusadas, segundo o documentário, não se mostram muito colaborativas com o que é pedido delas. Eis que o inacreditável acontece. Steven Avery é preso mais uma vez: acusado de haver matado uma mulher.
A comoção é total. Toda a família Avery se põe contra a justiça, e também grande parte da sociedade de Manitowoc. Os promotores públicos são incisivos ao imputar a culpa a Steven, mas não convencem de imediato a população. É apenas quando o sobrinho de Steven, Brendan Dassey, assume parte da culpa, descrevendo em detalhes chocantes como se procedeu o crime, que a opinião pública se vira fatalmente contra Steven Avery.
O documentário concentra a maior parte de seu tempo nos julgamentos de Steven e Brendan; dessa forma, procura expôr inúmeros absurdos: sendo o maior deles uma filmagem em que fica claro que os dois investigadores designados para o caso praticamente arrancam uma confissão falsa do menino usando de diversas táticas de pressão psicológico. Alie-se a isso o fato de Brendan Dassey ter um QI inferior ao de 80 e problemas cognitivos patentes e você tem um drama infalível nas mãos.

Sucesso e polêmicas

O documentário serializado foi um sucesso até surpreendente – para o gênero em que se encaixa (que é, diga-se de passagem, bem novo!). Nos Estados Unidos, os personagens tratados no documentário não demoraram a fazer parte da cultura pop. 
Não apenas isso, não demorou nada também para que o documentário extrapolasse o espaço do serviço de streaming e ganhasse movimentação política. Um grupo criou uma petição para que o caso Avery fosse reaberto na justa e conseguiram em tempo recorde um número impressionante de assinaturas para tanto. 
Logo após, começou a se ver que a história não tinha sido bem assim. O documentário faz uma defesa aparentemente embasada de como o sistema judicial norte-americano pode cometer injustiças, mas, em sua gana de apontar certas falhas e de apresentar o sujeito principal como vítima absoluta de um sistema cego e falho, a obra omite certos fatos que vieram à tona somente após o sucesso do documentário. (Para isso sugiro que pesquisem na internet o que disseram promotor público do caso e xerife acusado.) 
Há diversos dados que ainda não se fecham no caso e que merecem muita ponderação. As realizadoras do documentário, Laura Ricciardi e Moira Demos, parecem optar pela crítica do sistema e pelo drama manipulativo (como diversas vezes acontece durante o documentário, na representação de Steven e de seu sobrinho, Brendan). É meio impossível não ficar revoltado, absolutamente desiludido e cheio de compaixão em vista do que acontece com Brendan e de sua postura durante todo o imbróglio.
Ainda assim, o produto é inegavelmente viciante. Pouquíssimas séries conseguem fazer alguém assistir a dez horas seguidas no mesmo dia. Fica-se totalmente fascinado com essa história cheia de reviravoltas que, se não fosse real, seria sem dúvida uma ótima peça de ficção. 
Nota: 3.5/5

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